sexta-feira, 23 de setembro de 2011

16.64. Pregação de João o Batista (Mt 3:1-12; Mc 1:1-8; Lc 3:1-18) Lc 3:3,4

E percorreu toda a terra ao redor do Jordão, pregando o batismo de arrependimento, para o perdão dos pecados; segundo o que está escrito no livro das palavras do profeta Isaías, que diz: Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; Endireitai as suas veredas. Lc 3:3,4.

QUEM IGNOROU JOÃO O BATISTA NA HISTÓRIA DA IGREJA?
Os onze discípulos, em suas reuniões de negócios da igreja, não ignoraram João o Batista (At 1:12-26). A igreja primitiva estava progredindo cuidadosamente, buscando ter a certeza de que seus fundamentos estivessem assentados sobre doze competentes testemunhas. E Pedro em seu primeiro sermão aos gentios, reconheceu João e seu batismo como o princípio do Evangelho de Cristo (At 10:37).
O apóstolo Paulo não ignorou João e seu batismo ao pregar em sua primeira viagem missionária (At 13:24). Mas a corrupção da doutrina se arrastou silenciosamente para o pensamento de pessoas indiscriminantes que viveram no começo da era da Igreja, mesmo na época em que o Novo Testamento estava sendo construído. Alguns tinham errado absurdamente no ensino e em “batizar” alguns de seus “discípulos” mencionados em Atos 19:1-7. Quando Paulo os encontrou (por volta de 25 anos depois da ressurreição de Cristo), soube que alguma coisa estava errada. Eles não sabiam nada sobre o Espírito Santo de quem João havia pregado tão consistentemente.
Em pouco mais de uma centena de anos após a ressurreição de Cristo, de acordo com o Didaquê (o ensino dos doze apóstolos), o derramamento de água foi aceito como substituto ao batismo por imersão. Isto foi permitido através do engano em supor que o batismo era necessário para a salvação. Então alguns desconhecidos, mestres desajustados raciocinaram que se o batismo era requisito para a salvação, então bebês deveriam ser “batizados” também. Ninguém sabe quando as crianças começaram a ser aspergidas, pode ter sido no começo do terceiro século. Tal coisa não é encontrada no Novo Testamento. Porque o começo é o mais importante.
Marcos 1:4 e Lucas 3:3 têm a frase: “batismo de arrependimento, para remissão dos pecados” (do grego eis aphesin hamartion). A palavra “para” parece significar “de modo a receber” como às vezes é usado na nossa linguagem. Mas nem sempre significa isto; pode significar também “porque alguém tem recebido”. Este é o significado, por exemplo, em Marcos 1:44. Jesus disse ao leproso: “mostra-te ao sacerdote, e oferece pela tua purificação o que Moisés determinou para lhes servir de testemunho”.
O leproso foi ofertar porque tinha sido curado, não por causa da ordem de ser curado. A oferta foi um testemunho de sua cura, igualmente o batismo é uma evidência ou testemunho da salvação de alguém. Mas o engano começou e se espalhou. As pessoas eram ensinadas que o batismo salvava. Esta heresia é chamada de “regeneração batismal”, a idéia é de que no batismo, quando na aspersão de água em bebês, a pessoa é regenerada. Isto é diretamente contrário a dezenas de versículos na Bíblia que dizem que a salvação vem através somente da fé, sem obras ou sacramentos (Veja João 1:12; 3:16, 36; 5:24; 6:36; 20:31; Atos 16:31; Efésios. 2:8-10). Este sacramentalismo não era somente contrário à mensagem de João; era também contrário e largamente anulava as palavras de Cristo. Se o batismo salva, então porque Cristo precisou morrer na cruz? Se o batismo salva, é mais um ídolo? Se o batismo salva, então “Separados estais de Cristo... da graça tendes caído” (Gl 5:4).
Assim os claros ensinos do Evangelho foram cedo ignorados ou distorcidos. Kraeling diz (John the Baptist; p. 183): “É interessante notar que durante todo o segundo e terceiro séculos... os cristãos históricos e os pais da Igreja falaram muito pouco sobre João o Batista... Mas quando no quarto século, a crise gnóstica havia passado João subitamente se tornou para a Igreja novamente uma pessoa muito importante. Dias festivos em sua honra eram celebrados tendo um lugar no calendário litúrgico. Igrejas e oratórios ou grutas são erguidos em comemoração dele particularmente em Samaria, Alexandria e Constantinopla, mas também espelhadas por outras partes do oriente bizantino”. Mas pelo quarto século a maligna doutrina da regeneração batismal se tornou forte, e o surgimento da igreja católica prendeu firmemente em todos os seus aderentes.
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Agostinho (354-430), bispo de Hipona no norte da África, deu seu considerável apoio a heresia da regeneração batismal. Ele também foi um instrumento largamente usado na popularização da idéia da teoria da igreja “universal” ou “invisível”. Enquanto ele tinha na mente o sistema católico romano, muitos protestantes tem inconscientemente tomado para si este seu pensamento.
A igreja ortodoxa (grega) pratica também o batismo infantil; de qualquer modo, eles têm para a imersão o bem conhecido significado de baptizo. Mas em todos os séculos houve dissidentes da igreja católica. Eles tinham vários nomes e a sua maior parte rejeitou o batismo infantil. Invariavelmente eles foram perseguidos pelas “igrejas estabelecidas” e assim mesmo persistiram. Assim, quando Lutero surgiu com suas famosas noventa e nove teses em 1517, igrejas anabatistas eram numerosas por toda a Europa central. Elas não tinham surgido durante a calada da noite; elas tinham existido silenciosamente ao longo da história.
John Wycliffe foi martirizado pela sua fé que estava junto ao Novo Testamento e não nos erros de Roma, na Inglaterra em 1384. John Huss (1369-1415) tentou reformar a igreja católica, mas acabou queimado em uma estaca por estes esforços. Balthasar Hubmeier também tentou e sofreu semelhante martírio em 10 de março de 1528. Quando Lutero (1483-1546) e Calvino (1509-1564) vieram a ter proeminência e com o aumento de sua influência, parecia que todos os reformadores poderiam estar seguros. Mas os anabatistas foram severamente perseguidos tanto por católicos quanto por protestantes.
A. L. E. Verheyden, em sua obra Anabaptism in Flanders, 1530-1650, cita evidências de constante perseguição, incluindo torturas que os anabatistas sofreram durante aqueles anos. A página em branco deste livro diz: “a imagem (que o livro) apresenta é como uma evidência da surpreendente extensão da propagação do movimento Anabatista geograficamente, bem como seu vigor e tenacidade frente a mais severa perseguição. Que o Anabatismo persistiu em Flandres quase a metade do século além do ano 1600 não foi claramente conhecido depois. Que aparte de certas aberrações de seu começo, Anabatistas de flandres foram totalmente pacíficos, não resistentes e evangélicos, largamente após o modelo de Menno Simons, é plenamente demonstrado. Uma grande falta em nosso conhecimento e compreensão do Anabatismo no continente europeu tem agora sido suprida numa maneira excepcional e competente por um exemplo muito digno”.
Estes anabatistas eram tecnica e historicamente nem protestantes nem reformados. Eles cresceram em considerável número antes de Lutero aparecer e eles não estabeleceram uma igreja “reformada”. Antes, eles se esforçaram para manter a fé e ordem original do Novo Testamento, embora sem sucesso. A bem da verdade, alguns anabatistas não praticaram imersão por um tempo, mas depois os Batistas o fizeram universalmente.
A maioria dos historiadores da Igreja ignoram a história Anabatista demais. Eles são muito semelhantes a Enciclopédia Britânica (1961) que fornece o ano de 1521 como “data de seu surgimento!”. Pior, esta Enciclopédia identifica os anabatistas como os “homens loucos de Munster” que não eram realmente anabatistas. Protestantes e católicos culparam todos os demais por ações fanáticas destes supostos anabatistas. Até o nome Anabatista foi proscrito. Novos nomes estavam causando confusão. Alguns eram chamados menonitas que repudiavam os fanáticos de Munster como fizeram todos os Batistas, ainda assim os historiadores e teólogos deram mais importância a alguns poucos desviados de Munster enquanto ignoraram as grandes massas de pacíficos, lúcidos e perseguidos anabatistas. Na Inglaterra, João de Leyden deu um mau nome aos Batistas de quem, segundo diz a Enciclopédia Britânica, a vasta maioria era de pessoas boas e quietas, que praticavam os ideais cristãos de quem seus perseguidores falavam mal.
George P. Fisher em sua obra History of the Christian Church escreveu (341) sobre a reforma nos países baixos: “Anabatistas e outros licenciosos e fanáticos grupos sectários eram numerosos, e seus excessos foi um plausível pretexto para punir com severidade todos que abandonassem a fé antiga”. Mas na pagina 425 Fisher parece ser mais razoável em relação aos anabatistas: “É uma grosseira injustiça imputar a todos os selvagens e destrutivo fanatismo com que uma porção deles estava carregada”. Os fanáticos de Munster eram poucos em número se comparados com o grande corpo de anabatistas, muito poucos na proporção de um Judas entre doze discípulos!
William Stevenson, em sua obra The Story of the Reformation escreveu (p. 51, usado com permissão de John Knox Press, Richmond, Virginia): “A história tem testemunhado muitas injustiças, mas certamente nenhuma é mais flagrante do que a má reputação de uma piedosa e devota seita”. Por séculos suas virtudes foram verdadeiras entre as sombras enquanto que as luzes estavam focadas em lastimáveis episódios... em Munster, onde um bando de fanáticos irresponsáveis se lançaram em um lamentável experimento de comunismo, poligamia e outros vícios anti-sociais. Pelos excessos de alguns a maioria inocente foi condenada... não foi fortemente enfatizado que o episódio de Munster foi excepcional e não típico... “Os anabatistas estavam longe de serem malfeitores, eles regulavam suas vidas por elevados padrões, que até mesmo seus mais ferrenhos inimigos admitiam”.