domingo, 26 de junho de 2011

9.1. O anúncio aos pastores (Lc 2:8-20) Lc 2:8-12


Ora, havia naquela mesma comarca pastores que estavam no campo, e guardavam, durante as vigílias da noite, o seu rebanho. E eis que o anjo do Senhor veio sobre eles, e a glória do Senhor os cercou de resplendor, e tiveram grande temor. E o anjo lhes disse: Não temais, porque eis aqui vos trago novas de grande alegria, que será para todo o povo: Pois, na cidade de Davi, vos nasceu hoje o Salvador, que é Cristo, o Senhor. E isto vos será por sinal: Achareis o menino envolto em panos, e deitado numa manjedoura.

A mensagem que o anjo trouxe é fantástica:
“Uma segunda tríade está contida na mensagem do anjo no v. 11a: 1) é que nasceu, 2) para vós, 3) hoje. 1) Ele nasceu. O nascimento é sempre a primeira realidade de um ser humano de carne e sangue (cf. Jo 1:14). Esse Redentor “nasceu”. Ele nasceu, e não apareceu como esse anjo que o anuncia com as vestimentas de luz da glória de Deus. Não, esse Salvador tornou-Se nosso irmão de sangue, osso dos nossos ossos, carne de nossa carne, para que soubesse como nos sentimos neste pobre corpo carnal, e viesse a ser nosso misericordioso sumo sacerdote, para expiar nosso pecado e nos atrair para o alto como membros de Seu corpo, de Sua carne e Seus ossos (Ef 5:30). 2) Para vós, diz o anjo. Essa é a mais gloriosa palavra em toda a primeira pregação de Natal. “Para vós”, diz o anjo, “para vós”, para os humanos, não para nós, os anjos, é que Ele nasceu, Se tornou ser humano. Lutero diz: “Os anjos não precisam do Redentor, e os diabos não o querem. Ele veio por nossa causa, nós é que precisamos dele.”. 3) Hoje! O Redentor, que é de eternidade a eternidade, entrou no tempo. A palavra “hoje” define Seu nascimento como fato histórico. A encarnação do Filho de Deus não é um pensamento, uma idéia, um produto da fantasia que se construiu em personalidades ansiosas e esperançosas, mas um fato histórico que provocou um efeito imenso. Desde aquele “hoje” passaram-se séculos, mas será que a palavra do anjo não continua sempre ressoando em nosso coração, como se fosse hoje? A história de nosso Redentor, por mais verdadeira e real que tenha sido no tempo, não é como a história de outras pessoas, pertencente apenas ao tempo. Aqui o passado se torna presente, porque essa história pertence à eternidade e se renova incessantemente, prolongando-se todas as vezes que seu poder animador é experimentado por um coração humano.” (Evangelho de Lucas: comentário Esperança Rienecker, Fritz, Editora Evangélica Esperança, 2005).
O anjo descreve o Menino com três títulos, o Salvador, Cristo, o Senhor: “quanto a Salvador, o AT fala diversas vezes de redentores, de salvadores. por exemplo, os juízes são chamados de “salvadores”, pessoas que o Senhor convocou em épocas difíceis para salvar Seu povo (Jz 3:9; II Rs 13:5: Ne 9:27; Ob 21). – Acima de tudo, porém, desde os primórdios a palavra “Redentor” é um título de honra de Javé (I Sm 14:39; Sl 17:7; 51:14; Is 4:3,11). Agora, no entanto, Deus enviou um Redentor que é simultaneamente o próprio Deus Redentor. Por essa razão, Ele é o Redentor, e em nenhum outro há salvação e redenção (soteria), e tampouco há outro nome no qual os humanos serão bem-aventurados... Que é Cristo. Por meio da palavra Salvador, o anjo anunciou a grande obra de Jesus. Agora ele cita Seu título. Ele é Cristo, i. é, o Ungido, em hebraico o “Messias”. No AT esse nome ocorre somente em Daniel 9:25s, mas desde então se tornou tão predominante entre o povo judeu que o anjo foi imediatamente compreendido quando usou esse termo. Em Israel o sacerdote era ungido (Ex 29:7; Lv 4:3,5; Lv 8:12 e Sl 105:15). A unção com óleo anunciava ao sacerdote que ele precisava do “óleo”, i. é, do Espírito no seu serviço sumamente importante. Mais tarde o Ungido em Israel é o rei (I Sm 2:10,35; 10:1; Sl 2:2 e Is 45:1). Jesus, portanto, passa a ser simultaneamente Sacerdote e Rei. Ele é um Rei Sacerdote com o Espírito profético, como Israel o necessita. Unicamente por intermédio desse Cristo, o Ungido no sentido real e pleno da palavra, os filhos de Israel e todos os que pela fé lhe foram acrescentados, podem tornar-se cristãos... Senhor (kyrios). O anjo acrescenta a Cristo ainda o termo kyrios = Senhor. Essa correlação é única no NT. De At 2.36, “Senhor e Cristo”, depreende-se que cada palavra possui um significado determinado, delimitado... A última coisa que o anjo tem a dizer é que o nascimento aconteceu “na cidade de Davi”. Isso não é apenas uma confirmação de que Jesus é realmente o Rei Messias, que deveria ser oriundo da casa de Davi, mas dessa forma também se explicita a peculiaridade do cumprimento da profecia messiânica. Por mais que as revelações da nova aliança suplantassem a velha aliança, todos esses cumprimentos literais visam demonstrar com que profundidade a nova aliança está enraizada na antiga.” (Evangelho de Lucas: comentário Esperança Rienecker, Fritz, Editora Evangélica Esperança, 2005).